12 de março de 2013

LAURO DE OLIVEIRA LIMA

Reproduzimos duas matérias publicadas no Jornal O POVO a respeito do educador cearense, de estatura internacional, Lauro de Oliveira Lima. O primeiro deles é o Editorial do dia 31 de janeiro. O segundo é um artigo da jornalista e educadora Adísia Sá publicado no dia 26 de fevereiro. O leitor pode ter uma idéia da produção de Lauro Oliveira Lima publicada em livros. Aos educadores que pretendem desenvolver suas capacidades para responder aos desafios da atualidade certamente é muito estimulante e necessário conhecer o pensamento e a ação de Lauro de Oliveira Lima.


Fotografia obtida na página da Escola A Chave do Tamanho no Facebook


Lauro de Oliveira Lima: um pedagogo livre e insubmisso

Hoje será cremado o corpo do educador cearense Lauro de Oliveira Lima, que morreu aos 91 anos de idade, no Rio de Janeiro, na noite da última terça feira. O Ceará e o mundo da educação em geral (e não apenas no Brasil) perdem uma das mentes mais férteis e instigantes em termos de inovação do processo de aprendizagem e dos meios mais apropriados de induzir o conhecimento, tendo sido autor de mais de 30 obras relacionadas à educação e lutado até o fim da vida contra o conformismo nessa área.

Seu espírito insubmisso e sua ojeriza à mediocridade (“Não devemos transformar a mediocridade em valor de vida”) tornaram-no uma espécie de aguilhão contra o convencionalismo e à absorção acrítica das formas tradicionais de ensino, tendo abraçado as teorias pedagógicas de Jean Piaget, que teve nele não só um difusor fiel, mas um interlocutor de primeira linha, desenvolvendo um trabalho pioneiro no Brasil.

Filho de Limoeiro do Norte formou-se, em 1949, em Direito e, em 1951, em Filosofia. Antes disso, engajou-se no magistério secundário e casou-se com a neta de Agapito dos Santos, conhecido educador cearense, a professora Maria Elisabeth Santos de Oliveira Lima. Em 1945, foi aprovado em concurso para o cargo de inspetor Federal de Ensino, ao qual dedicou duas décadas de sua vida, a metade das quais como inspetor seccional do MEC no Ceará.

Dentre outros feitos seus está a fundação do Ginásio Agapito dos Santos, onde teve a oportunidade de iniciar suas ideias inovadoras na área pedagógica, chegando a escrever nessa época o livro Escola Secundária Moderna, que chamou a atenção do prestigiado educador Anísio Teixeira (1963). Foi quando deu reforço à metodologia da dinâmica de grupo e à divulgação de seu método psicogenético. Mais tarde fundaria em Fortaleza o Colégio Oliveira Lima e, no Rio de Janeiro, outro: A Chave do Tamanho.

O golpe de 1964 e a instauração da ditadura subsequente desencadearam sobre Lauro de Oliveira e sua família uma das mais sórdidas perseguições do regime obscurantista, tendo que deixar o Ceará, com a família, sofrendo todo tipo de vexames, inclusive prisão.
Hoje, o Ceará sente orgulho por esse filho ilustre e homenageia seu legado intelectual e seu exemplo de fidelidade aos ideais democráticos e humanísticos.



Morre um educador
Aos 91 anos, faleceu Lauro de Oliveira Lima, uma figura brilhante da educação brasileira, com atuação marcante no Ceará. Fui sua aluna na então Faculdade Católica de Filosofia, semente da Universidade Estadual do Ceará. Não era uma pessoa comum: sempre alegre, brincalhão, levava o conhecimento sem pose, empáfia. Na sua maneira de expor, era um dos mais aplaudidos pelos alunos.
Como eu vinha de uma escola tradicional, por duas vezes, tranquei matrícula para não ser aluna de Lauro. Quando a última oportunidade se me apresentou, lá estava eu na sua sala. Nos primeiros instantes me rebelei quanto ao seu método, tola que eu era. No decorrer dos dias, me tornei a mais entusiasta aluna.

Suas aulas eram alegres. Com isso, fui captando seu estilo e pondo em prática – capengamente falando – ao longo de minha atividade no magistério.

Nascido em Limoeiro do Norte, teve Zé Afonso, único professor da região, de onde saiu para completar os estudos primários no seminário de Jundiaí (SP). A família sonhava em ter um filho sacerdote, mas o destino lhe guardara Maria Elisabeth, neta de Agapito dos Santos...

Antes do magistério, Lauro foi inspetor federal de Ensino. Lauro burocrata? Impossível. Formou-se em Direito e Filosofia. O seu destino estava traçado: magistério/educação. Fundou o Colégio Agapito dos Santos, onde aplicou o método de Jean Piaget, filósofo e psicólogo – idealizando o Método Psicogenético de Ensino.

Lauro não foi apenas pesquisador, estudioso, professor, educador, pensador, também pedagogo e filósofo da Educação. Dentre seus livros (mais de 30), “Escola Secundária Moderna” é uma de suas principais referências. Pioneiro no Ceará na aplicação do estudo em equipes e na criação de situações-problema de acordo com nível mental da criança, marcou a educação brasileira e latino-americana.

Foi perseguido pelo governo dos militares. Acusado de subversivo, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde lecionou e produziu muitas obras sobre educação. O nosso conterrâneo Lauro de Oliveira Lima é nome a ser lembrado, honrado, cultuado pelo Ceará e pelo Brasil.

Adísia Sá
adisiasa@gmail.com
Jornalista

BIBLIOGRAFIA DE LAURO DE OLIVEIRA LIMA
LIMA, Lauro de Oliveira. Conflitos no lar e na escola: teoria prática da dinâmica de grupo segundo Piaget. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 201 p., il. (Ciências da Educação).

LIMA, L. O. Treinamento em dinâmica de grupo: no lar, na empresa, na escola. Petrópolis: Vozes, 1982. 466 p., il., tab. Bibliografia: p. 459-463.

LIMA, L. O. Educar para a comunidade. Petrópolis: Vozes, 1969. 89 p. (Educar para a vida, 3).

LIMA, L. O. Escola no futuro: orientação para os professores. Petrópolis: Vozes, 1979. 301 p.

LIMA, L. O. Uma escola piagetiana. Rio de Janeiro: Paidéia, 1981. 78 p., il.

LIMA, L. O. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. Rio de Janeiro: Brasília, [s.d.]. 363 p. (Coleção Pedagógica).

LIMA, L. O. A hibernação do tritão ou a falta de conteúdo. Rio de Janeiro: Centro Experimental e Educacional Jean Piaget, 1984. 21 p. Apresentado no 1º Congresso Internacional de Educação Piagetiana e no 2º Congresso Brasileiro Piagetiano.

LIMA, L. O.; LIMA, Ana Elisabeth Santos de Oliveira. A juventude como motor da história: abertura para todos os possíveis. Rio de Janeiro: Paidéia, 1980. 119 p.

LIMA, L. O. Mutações em educação segundo Mc Luhan. Petrópolis: Vozes, 1971. 63 p., il. (Cosmovisão, 1).

LIMA, L. O. Pedagogia: reproduçao ou transformação. São Paulo: Brasiliense, 1984. 110 p. (Primeiros vôos, 9). Inclui bibliografia.

LIMA, L. O. Por que Piaget?: a educação pela inteligência. São Paulo: SENAC, ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO, 1980. 46 p., il. (Documentos de Trabalho, 7).

LIMA, L. O. Tecnologia, educação e democracia. Rio de Janeiro: Civilização, 1979. 202 p., il. (Coleção Retratos do Brasil, v. 41).

LIMA, L. O. Tecnologia, educação e democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 202 p., il. (Retratos do Brasil, v. 41). BBE.

LIMA, L. O. A escola secundária moderna. Rio de Janeiro: Vozes, 1976. 670 p.

LIMA, L. O. Conflitos no lar e na escola: dinâmica de grupo. Petrópolis: Vozes, 1988. 198 p.

LIMA, L. O. O impasse na educação: diagnóstico, crítica, prospectiva. Petrópolis: Vozes, c1969. 832 p., il.

LIMA, L. O. Introdução à pedagogia. São Paulo: Brasiliense, 1983. 118 p. (Primeiros vôos, 21).

LIMA, L. O. Os mecanismos da liberdade: microssociologia. São Paulo: Polis, 1980. 376 p.

LIMA, L. O. A construção do homem segundo Piaget: uma teoria da educação. São Paulo: Summus, 1984. 151 p. (Novas Buscas em Educação, v. 8)



Outras fontes de informações sobre Lauro de Oliveira Lima na internet
http://laurodeoliveiralima.blogspot.com.br/
http://www.jeanpiaget.com.br/

11 de março de 2013

O grau dos tremembés

Reproduzimos artigo de autoria do Prof. Babi Fonteles, publicado no jornal O POVO de Fortaleza, no dia 7 de março de 2013, assinalando o significativo evento e o processo que lhe deu origem.
O Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior - MITS é ao mesmo tempo um indicador da vitalidade do movimento dos índios no Ceará e um exemplo das possíveis maneiras que os que fazem a universidade tem para exercer sua responsabilidade social.



Totó Rios/www.acarauonline.blogspot.com

Um capítulo novo na história do Ceará foi escrito neste dia 6 de março de 2013. Trata-se da colação de grau dos professores indígenas Tremembé de Almofala, na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza.

Quase meio século depois, os tremembés se fazem presentes novamente àquele belo cenário. Em 1965, participaram do festival nacional de folclore, conquistando o primeiro lugar. Desta vez, vêm receber diplomas e títulos de graduados pelo Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior (MITS), construído coletivamente por eles mesmos, com o apoio de alguns parceiros, entre os quais o Ministério da Educação (MEC), sendo o único no País a ter tido suas atividades realizadas integralmente no ambiente da aldeia e a primeira licenciatura indígena no Nordeste.

Mas essas não são as únicas inovações. O MITS inovou na matriz curricular, incorporando saberes específicos dos tremembés, como na disciplina “Torém: Ciência, Filosofia e Espiritualidade Tremembé”. Inovou ainda no corpo docente, do qual fazem parte algumas de suas sábias lideranças, como o cacique João Venâncio e o pajé Luis Caboco.

A colação na UFC foi uma festa da memória e da vitória de um povo que permanece vivo; que enfrentou e continua enfrentando desafios para criar suas crianças, educar os jovens e amparar os velhos; que sobreviveu aos massacres e às doenças trazidas pelos colonizadores e missionários; às intempéries naturais, como o soterramento de Almofala, no início do século passado; à invasão sistemática de suas terras por estrangeiros, comerciantes, fazendeiros, empresários e políticos.

Este é o grau e o nível superior deste povo, revelado, desta vez, nos diplomas e títulos outorgados pela UFC: resistência, sabedoria, criatividade, força política e espiritual, que o faz seguir adiante, realizando em sua história a máxima do filósofo Nietzsche: “O que não me mata, me fortalece”.

Babi Fonteles
babifonteles@gmail.com
Doutor em Educação Indígena, professor da UFC e coordenador geral do MITS








Totó Rios/www.acarauonline.blogspot.com