O Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior - MITS é ao mesmo tempo um indicador da vitalidade do movimento dos índios no Ceará e um exemplo das possíveis maneiras que os que fazem a universidade tem para exercer sua responsabilidade social.
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Um capítulo novo na história do Ceará foi escrito neste dia 6 de março de 2013. Trata-se da colação de grau dos professores indígenas Tremembé de Almofala, na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza.
Quase meio século depois, os tremembés se fazem presentes novamente àquele belo cenário. Em 1965, participaram do festival nacional de folclore, conquistando o primeiro lugar. Desta vez, vêm receber diplomas e títulos de graduados pelo Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior (MITS), construído coletivamente por eles mesmos, com o apoio de alguns parceiros, entre os quais o Ministério da Educação (MEC), sendo o único no País a ter tido suas atividades realizadas integralmente no ambiente da aldeia e a primeira licenciatura indígena no Nordeste.
Mas essas não são as únicas inovações. O MITS inovou na matriz curricular, incorporando saberes específicos dos tremembés, como na disciplina “Torém: Ciência, Filosofia e Espiritualidade Tremembé”. Inovou ainda no corpo docente, do qual fazem parte algumas de suas sábias lideranças, como o cacique João Venâncio e o pajé Luis Caboco.
A colação na UFC foi uma festa da memória e da vitória de um povo que permanece vivo; que enfrentou e continua enfrentando desafios para criar suas crianças, educar os jovens e amparar os velhos; que sobreviveu aos massacres e às doenças trazidas pelos colonizadores e missionários; às intempéries naturais, como o soterramento de Almofala, no início do século passado; à invasão sistemática de suas terras por estrangeiros, comerciantes, fazendeiros, empresários e políticos.
Este é o grau e o nível superior deste povo, revelado, desta vez, nos diplomas e títulos outorgados pela UFC: resistência, sabedoria, criatividade, força política e espiritual, que o faz seguir adiante, realizando em sua história a máxima do filósofo Nietzsche: “O que não me mata, me fortalece”.
Babi Fonteles
babifonteles@gmail.com
Doutor em Educação Indígena, professor da UFC e coordenador geral do MITS
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